Viagem sem câmera

Para mim não existe viagem sem câmera. É impossível viajar sem registrar fotograficamente, perde muito o seu significado. Pode parecer idiota, simplista. Os hippies vão dizer que eu estou muito focada no material. Os viciados em redes sociais vão concordar e pensar: “como não irei registrar minha ida aquele lugar? E a minha selfie que vai fazer meio mundo morrer de inveja?”.Os profissionais vão dizer: “pra que se você só faz foto normal, mais do mesmo? Um smartphone te resolve”.

Mas pra mim não pode ser qualquer câmera, precisa ser uma daquelas que você demora uns 2 minutos pra fazer um clique, e provavelmente vai estar fora de foco (e os profissionais pensam: “que desperdício essa maquina na mão dessa menina!”). Alguns pensam que isso não tem graça. Pra mim é a graça. Roce precisa analisar aquela paisagem.

De que ângulo fica melhor?

Onde esta batendo a luz?

Estou me colocando em grande risco de ser atropelada?

Sera que as pessoas vão se importar de eu tirar uma foto delas?

Os mais críticos vão dizer: “Mas o principal não era o lugar??? Foto você tira até em casa!”. Só que viagem pra mim significa conexão com os lugares. Tem gente que faz amigos, tem gente que faz arte, tem gente que trabalha, tem gente que faz “check-in”. Eu gosto de tirar foto. Mas nem sempre eu publico. Aliás quase nunca. Nem me organizo. Nem sei de onde eh aquela foto. Sei o país e no máximo a cidade. Mas assim, o nome do museu, do parque, da rua, do monumento, eu não tenho nem ideia. Tenho lembranças, sensações, talvez eu possa te dizer o que eu estava sentindo quando tirei a foto. Mas não o nome do lugar. Me desculpe, isso eu não consigo.

Já faz algum tempo que eu não tenho uma câmera decente. E eu, aquela pessoa que precisa viajar, precisa ter o próximo destino em mente, me sinto pra baixo, sem expectativa. Tenho as próximas viagens marcadas para daqui a 2 meses e não me sinto nem um pouco animada. Nem os dias de sol em Edimburgo me animam. Como se divertir sozinha sem uma câmera? Ela, que foi tao parceira em tantas viagens. Fazer o que na rua senão fotografar? Meus sentidos se aguçam, me sinto mais viva e observadora.

Mas uma coisa é certa. Eu não entro mais num avião sem uma câmera na mão!